domingo, 23 de dezembro de 2012

ROMANÉE, A ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO

(Para o terceiro mundo)

Ralph J. Hofmann
(Com texto de apoio de Carlos Duarte)

Há escolas de administração, escolas no sentido de “fazer escola”, diferentes.  Lembro que nos anos setenta e oitenta executivos selecionados, experientes em alguma área específica, eram enviados a Fontainebleau na França para, durante um ano estudar, praticamente a portas fechadas administração de alto nível, para após isto assumir cargos para os quais haviam sido selecionados.

Depois havia os tradicionais cursos de Harvard, MIT, Stanford, da London School of Economics que ofereciam treinamentos intensivos.

O Brasil fez escola em ternos de treinamento administrativo para executivos públicos oriundos das camadas mais humildes.

Os governantes que acompanharam Lula na suja escalada ao poder foram preparados para o cargo na Escola Romanée-Conti de administração pública. Passaram os anos de preparo para o poder aprendendo a vital arte de superar a caipirinha e a cerveja Schin  substituindo-a por uísque Royal Salute e cervejas Stella Artois e  Michelob. No último trimestre do curso foram introduzidos aos vinhos  Romanée-Conti, Chateau Lafitte e Mouton Rothschild.

A teoria aparentemente seria quanto de que mais classe o que você consome, mais sólidas e profundas serão suas decisões sobre o futuro da pátria.

A disseminação mundial destes conceitos havia nos escapado até esta semana. Subitamente descubro que não estamos sozinhos nesta galáxia. Há outros como nós, que consideram estar à sua disposição todo o conteúdo de seu país para garantir a elitização pelo consumo.

O candidato a vice-presidente da República da República de Angola, Manuel Vicente, ou tem um gosto refinado por vinhos e conhaques caríssimos ou acha que o consumo dos mesmos lhe dará poderes excepcionais. .  
Periodicamente envia à França e Portugal, um avião executivo (um luxuoso Falcon-900 ou o sofisticado Falcon X-7), como cargueiro exclusivamente para transportar  seus vinhos e conhaques. Os vôos são operados pela VipAir, uma empresa associada à companhia aérea Sonangol, e não são permitidos passageiros durante as referidas viagens. 

Casos recentes demonstram como o atual ministro de Estado para a Coordenação Econômica e presumível sucessor de José Eduardo dos Santos na presidência da República e do MPLA, não se preocupa com seu povo que sequer têm acesso a água potável. 

Em Paris, a tripulação do Falcon-900, em missão de transporte dos vinhos e conhaques de Manuel Vicente, não teve autorização para transportar outra tripulação da VipAir que se deslocou à capital francesa com o objetivo de entregar um outro Falcon à revisão. Como justificação, o encarregado do candidato do MPLA informou a tripulação sobre a escala a Lisboa, em busca de outros vinhos. Algumas das garrafas de vinho Petrus, adquiridas em Paris, são reservadas apenas a multimilionários. O Petrus 1989 Magnum custa cerca de 9,700 euros, enquanto o Petrus 1990 Magnum atinge os 11,000 euros por garrafa. Já o conhaque regular de Manuel Vicente, o Rémy Martin Louis XIII, custa em média 2,500 euros, enquanto as garrafas especiais, da mesma marca e também ao gosto do dirigente angolano, custam acima dos 8,000 euros. 
Durante vários anos, até Janeiro passado, Manuel Vicente exerceu o cargo de todo-poderoso presidente do Conselho de Administração e diretor geral da Sonangol, no qual constituiu uma fortuna pessoal incalculável e de forma ilícita, Por isso, as muitas garrafas de vinho Petrus regularmente adquiridas pelo referido dirigente angolano são apenas uma ínfima amostra do seu estilo de vida opulento. 

Outro ato semelhante aconteceu também em viagem recente. De regresso a Angola, o Falcon da AirVip escalou um país africano por conveniência de serviço. Dado o calor tropical, Manuel Vicente pessoalmente instruiu a tripulação para alugar um quarto, em hotel de cinco estrelas, para o “repouso” exclusivo dos seus vinhos, provenientes de Paris, a uma temperatura de 18º C. 

Há dias, Manuel Vicente deu indicações que, mesmo entre os seus mais relevantes colegas de governo, só alguns especiais podem usufruir das suas bebidas. Em viagem de serviço, através da VipAir, o ministro da Defesa, general Cândido Van-Dúnem, aproveitou a presença do ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República, general Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, no Falcon, para provar o conhaque Luís XIII de Manuel Vicente. Na viagem seguinte, já sem a presença do general Kopelipa no avião, o ministro Van-Dúnem solicitou que lhe servissem o referido conhaque e o pedido foi-lhe recusado por se tratar da garrafeira particular de Manuel Vicente. O general Kopelipa é o principal sócio de Manuel Vicente em negócios que envolvem bilhões de dólares de investimentos, resultantes de atos de corrupção envolvendo a Sonangol e a presidência da República. 
Mas, como a garrafeira de Manuel Vicente também cuida dos desfavorecidos, coube ao pessoal de bordo servir um conhaque Couvoursier ao ministro da Defesa. 
Os atos de Manuel Vicente são ofensivos à moralidade e ao princípio da probidade que deve observar enquanto dirigente. O uso exclusivo de um avião de luxo adquirido com fundos da Sonangol, logo propriedade do Estado, para o transporte de vinhos e conhaque para satisfazer os seus caprichos etílicos é um ato inqualificável de corrupção e esbanjamento de fundos do Estado. 
Milhares de crianças angolanas morrem ao nascer nas mal equipadas maternidades do país ou no Hospital Pediátrico David Bernardino, de Luanda. Todas as manhãs, o Hospital de Pediatria de Luanda afixa uma lista com o nome das crianças que morrem sob os seus cuidados.

É de cortar o coração. Mas, Manuel Vicente e seus colegas, que nasceram e cresceram pobres, julgam-se, quando muito, indiferentes ao sofrimento que causam ao povo angolano. Regra geral escarnecem da miséria dos cidadãos, ao ponto do próprio Presidente José Eduardo ter publicamente afirmado que, quando nasceu filho de um pedreiro e de uma lavadeira, “já havia pobreza em Angola” e a culpa não era sua. Seguramente, estes dirigentes devem achar indigno respirar o mesmo ar que o povo, do qual apenas precisam do voto.

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