terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Sinto muito, não virá dom Sebastião



Sinto muito, não virá dom Sebastião


É famoso o mito do sebastianismo. Sonhador, Dom Sebastião tornou-se herói em Portugal no século XVI ao chefiar seu exército na cruzada contra mouros no Norte da África. A História conta que, aos 24 anos, foi morto na batalha de Alcácer-Quibir. Até hoje, no entanto, pouco se fala da sua ‘morte’. Diz-se ‘desaparecimento’. Como se, a qualquer momento, pudesse, depois de séculos, voltar Sebastião em seu cavalo branco a salvar a todos.
Se Sebastião tornou-se rei com três anos, no Brasil tivemos um aos cinco, ao entregar-nos Pedro I uma criança para ser nosso “Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil”. Aos 14 anos, Sebastião assumiu o poder. Pedro II, no Brasil, aos 15. Por sua postura equilibrada, o estadista brasileiro jamais deixou-se confundir com o mito português. Expulso do País, não assumiu o estilo de herói. A República Brasileira, porém, conseguiu criar seus mitos. Na versão tupiniquim, construímos nosso próprio sebastianismo.
Ocorre que o ‘mártir da independência’ não conquistou a liberdade. Foi enforcado e esquartejado. ‘A redentora’, um ano depois de redimir, também foi expulsa do País. O ‘pai dos pobres’ governou sob ditadura e não acabou com a pobreza. Suicidou-se. O ‘varre-varre, vassourinha’ não varreu nada. Renunciou. O ‘caçador de marajás’... A ‘mãe do PAC’...
E, teimosos e iludidos, continuamos em busca de heróis.
Não há dúvidas de que o País precisa e carece hoje de líderes, que, com postura republicana e motivadora, apontem o caminho e levem o Brasil a um efetivo desenvolvimento e prosperidade. Erramos todos os brasileiros, não obstante, quando esperamos um novo mito, alguém que, em um passe de mágica, resolva os nossos problemas. Sinto muito. Não virá Dom Sebastião.
Da atual crise e de suas consequências, talvez uma boa lição possamos tirar. Não há resultado sem esforço, não há sucesso sem trabalho. Quanto mais atenta e atuante estiver a sociedade, melhor será nossa política e democracia. Urge uma participação maior de todos em todas as esferas. Não de segmentos apenas. Repito, de todos.
Essa participação se dará com manifestações como as realizadas neste ano, mas vai muito além. Com os pais atuando nas atividades escolares de seus filhos. Com o engajamento da comunidade nos conselhos de segurança em suas regiões, ajudando a polícia em ações de prevenção e alerta. Com o cuidado do motorista com os pedestres, do jovem com os idosos. Com as ações sociais.
A política, ao contrário do que muitos imaginam, se faz no cotidiano, nas relações do nosso dia a dia. Evidente que é importantíssima e fundamental a participação nas eleições. Mas ela sozinha não basta.
Cada um precisa fazer sua parte. Infelizmente, isso exige empenho, disposição que nem sempre os brasileiros temos mostrado até aqui. Herança talvez dessa cultura lusitana de espera, do Estado provedor. É uma mudança paulatina, cultural, que se dará passo a passo. Mas que é necessária. É preciso iniciá-la. E ela começa por mim, por você, por todos nós. Não por Dom Sebastião.
Uma pausa.
Chegamos à semana do Natal e, em meio a tantos desafios, meu desejo é que possamos aproveitar a união e a partilha que ocorre nessa ocasião. Que a paz e a esperança imperem em cada lar. Que, ao lado de nossos familiares e amigos, possamos experimentar momentos de felicidade e de harmonia. Feliz Natal a todos!




   Gabinete do Senador Antonio Anastasia.

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