Muitas pessoas sofrem de Halitose, mais conhecida como mau hálito, alteração que costuma gerar um grande desconforto e constrangimento, pois quem sofre com o problema evitar sorrir e se aproximar. Por outro lado, a pessoa que não consegue controlar a disfunção pode acabar se acostumando com o próprio hálito, não sendo capaz de perceber ou admitir o mau odor bucal e os demais se afastam dela.
Este distúrbio pode ter origem em problemas de refluxo, gastrite e dieta carregada em proteína. A halitose é um reflexo, ou seja, um sintoma de que algo no organismo está desequilibrado e precisa de tratamentos – nem que seja para o indivíduo melhor sua higiene bucal. Outra característica do mau hálito é que ele varia com o período do dia e a idade de cada pessoa, agravando-se à medida que a fome aumenta.
Para saber um pouco mais sobre esse desconforto bucal, entrevistamos o Dr. Vladimir Schraibman (CRM – SP 97304), especialista em cirurgia geral, gastrocirurgia e orientador de Cirurgias Robóticas da área de Cirurgia Geral e do Aparelho Digestivo do Hospital Albert Einstein (Proctor Intuitive Robotic System). Leia abaixo:
1. O que é halitose?
Em primeiro lugar vamos entender o que é hálito. Ele é composto pelo ar expirado após a inspiração que provoca as trocas gasosas fisiológicas, associado às substâncias eliminadas por via pulmonar. Estas substâncias partem do intestino para o fígado, para a bile, para o sangue e, finalmente, para os pulmões, quando são eliminados pela expiração. Todo este processo resulta no odor desagradável por causa da passagem do ar pela cavidade bucal ou estômago durante o processo da respiração.
2. Por que problemas de refluxo, gastrite ou uma dieta carregada em proteína podem dar origem à halitose?
A digestão não ocorre exclusivamente no estômago ou intestino. Quando o processo de digestão ocorre há uma liberação desses gases para o esôfago e a boca. Em pacientes portadores de refluxo, o conteúdo do estômago reflui em direção à boca contendo restos alimentares e sucos gástricos que, muitas vezes, ainda estão indigestos, causando mau hálito crônico. A gastrite, por gerar uma lentidão maior no estômago, pode induzir quadros de digestão lenta com liberação de "gases" estomacais que originam o odor bucal. Refeições ricas em proteínas também podem gerar este problema, pois acarretam numa digestão lenta com liberação de amônia e resíduos que são ricos em odores que levam à halitose.
3. Qual a relação do hálito com os problemas de estômago?
Pesquisas efetuadas pela Associação Brasileira de Halitose (ABHA), concluíram que é um mito que o mau hálito tenha sua origem no estômago. Isso existe porque se associou estômago vazio com halitose, mas é um fenômeno passageiro. Se a pessoa ficar mais de 4 horas sem se alimentar, o corpo sofrerá com hipoglicemia (diminuição na quantidade de açúcar para o organismo queimar). Assim, o organismo passa a consumir ácido graxo (gordura), presente na corrente sanguínea. Esse ácido possui um odor fétido e é volátil. Quando a pessoa expira e há a troca de gases no pulmão, o cheiro ruim do ácido graxo é eliminado, sendo caracterizado como halitose matinal, que muitas pessoas têm pela manhã. Mas, a partir do momento que a pessoa se alimenta, o mau cheiro desaparece. Ou seja, não é um caso crônico de mau hálito.
4. É verdade que a constipação intestinal também pode ter influências no desenvolvimento da halitose? Por quê?
É verdade. Há vários problemas que podem influenciar no aparecimento da halitose, como por exemplo: jejum prolongado, higiene bucal inadequada, diabetes, prisão de ventre, entre outros. Estresse e medicamentos controlados também podem ser responsáveis pelo mau hálito, porque inibem o fluxo salivar.
5. A halitose pode ocasionar algum tipo de repercussão clínica? Qual?
Não existem maiores problemas ocasionados pela halitose. Apesar disso, pode provocar alguns prejuízos de ordem emocional, como insegurança ao se aproximar das pessoas, seguido de depressão, dificuldade em estabelecer relações amorosas, esfriamento do relacionamento entre o casal, resistência ao sorriso, ansiedade, e baixo desempenho profissional, quando o contato com outras pessoas é exigido.
6. Das pessoas que sofrem com a halitose, qual o percentual que se refere a quem tem problemas gástricos?
Menos de 10% das pessoas que sofrem com a halitose tem problema gástrico. Em 90% dos casos, a saburra lingual é a principal causa do problema.
7. Quando a halitose é gerada por problemas digestivos, como deve ser o tratamento? Ele deve ser multidisciplinar?
Primeiro deve ser avaliado quais detritos estão mais presentes na mucosa bucal e a partir dai definir se há necessidade de um tratamento ou apenas orientação sobre a higiene bucal.
Perfil
Dr. Vladimir Schraibman (CRM-SP 97304) – Cirurgia Geral e Gastrocirurgia
Especialista em cirurgia geral, gastrocirurgia e orientador de Cirurgias Robóticas da área de Cirurgia Geral e do Aparelho Digestivo do Hospital Israelita Albert Einstein (Proctor Intuitive Robotic System).
Graduado em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, com mestrado e doutorado em Ciências Médicas pelo Departamento de Cirurgia da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, Dr. Vladimir Schraibman é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Videolaparoscópica (Sobracil), é médico colaborador do Setor de Fígado, Pâncreas e Vias Bilares do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal de São Paulo, além de integrar o corpo clínico do Hospital Albert Einstein. Tem diversos artigos publicados em revistas e jornais científicos do Brasil e do exterior, além de intensa participação em congressos nacionais e internacionais.
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