Amar o outro: a manifestação do próprio Deus em nós
O Santo Padre afirma que esse período é propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé: “Trata-se de um percurso marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio e o jejum, com a esperança de viver a alegria pascal”.
As nossas solidões nascem não do isolamento dos outros, mas da nossa incapacidade de atravessar a soleira do nosso eu e abrir-nos plenamente a nós mesmos. Só assim inicia o processo do amor; assim se recupera a amar a si mesmo e aos outros, porque se reencontra Deus-Amor dentro de nós.
A esta maravilhosa verdade podemos reconduzir uma das mais belas célebres parábolas de Jesus. É a parábola comumente dita de Filho Pródigo (Lc 15,11-32). Acontece a este filho, que reencontra a misericórdia divina, quanto a cada um de nós que também é dado de experimentar. Ele fugia do próprio coração (a casa de seu pai), para buscar ter casa fora do verdadeiro amor, de um amor que já possuía que estava na história da sua vida.
O amor de Deus se encontra, então, na nossa casa. E porque, entra em si mesmo, isto é ouve de novo a voz do Espírito que o chama mais uma vez à vida interior. A decisão tem como conseqüência uma coisa: para reencontrar a via do amor perdida, não acha se não voltar a casa (cf. Lc 15,18). Em casa o filho reencontrará a alegria de ser amado: gozará da alegria de uma festa, lhe presenteada pelo pai, uma inesperada alegria da qual se torna protagonista. Quanta honra quantas atenções, quantos privilegiados presentes existem reservados quando “Deus permanece em nós e o amor dele é perfeito em nós” (1 Jo 4,12b).
O tempo da Quaresma sempre foi um convite profundo, não apenas à conversão, mas, sobretudo, um profundo olhar para a Páscoa, que é o centro da vida humana, ou seja, o único e verdadeiro sinal de esperança que dá sentido à vida. Neste ano, ao nos convidar para voltarmos ao nosso irmão, o Papa não está pedindo apenas que passemos pelas ruas e avenidas e nos abrimos a uma “esmola”, para quem nas margens da sociedade se encontram. Muito mais ainda que um apelo à solidariedade, que muitas vezes pode nos encher de orgulho, por ajudarmos uma entidade ou alguém que eu escolho ajudar, o Papa nos convida nesta quaresma a uma profunda fraternidade, onde eu não escolho a quem ajudar solidariamente, mas me coloco com um irmão daquela pessoa que é colocada por Deus no nosso caminho. Aqui poderíamos lembrar-nos da passagem bíblica do Bom Samaritano, que não hesitou em acolher, muito mais que ajudar aquele que estava no seu caminho.
Desejo a todos, uma santa quaresma, acolhendo como irmãos todos aqueles que são colocados, por Deus no nosso caminho.
Pe. Anderson Marçal Moreira é membro da Comunidade Canção Nova e doutorando em Teologia Pastoral Litúrgica junto à Faculdade Pontifícia Salesiana, em Roma. blog.cancaonova.com/padreanderson/
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