Ralph J. Hofmann
No século XVIII o Reverendo Thomas Malthus previa que o crescimento populacional levaria à impossibilidade de alimentar as populações. Enquanto o crescimento populacional tendia a ser exponencial, o crescimento da produção de alimentos seria aritmético.
Este raciocínio obviamente poderia ser estendido a todos os recursos utilizados pelo homem.
Contudo a produção de recursos não tem se comportado dessa maneira. Efetivamente nas sociedades que valorizam a inventividade, a técnica e a tecnologia cada vez se produzem mais bens e alimentos. O problema está essencialmente em distribuir estes alimentos e bens tornando-os disponíveis para quem não os produz ou não pode produzir.
Nestes dias podemos supor que há os recursos para fomentar a produtividade de regiões empobrecidas e onde a natureza tenha sido abusada a ponto de haver a necessidade de um esforço excepcional. O dia que a mortalidade infantil baixou em função da medicina e farmacologia moderna certas populações pobres começaram a ter uma maior sobrevida. Assim foi necessário explorar mais a floresta mesmo que apenas para obter combustível para cozinhar. Isto afetou áreas como as regiões subsaharianas intensamente, desertificando-as.
Há tecnologias para reverter isto. Também há ajuda em potencial para isto. Contudo este tipo de região não raro é sujeito a conflitos, como no caso da Somália. A atividade das pessoas produtivas é acossada pelas atividades de grupos armados cujo principal interesse é exercer o poder.
Por outro lado regiões mais ricas como o Congo e a Nigéria, o Afeganistão, o Iraque e até certo ponto o Irã acabam sendo chagas em que o bem estar é preterido em função de facções e tabus de natureza religiosa.
É claro que os países ocidentais passaram por algo semelhante. Primeiro, na idade média eram barões tentando obter controle das regiões mais férteis o que lhes permitia manter uma força armada maior para ou conquistarem ou defenderem os territórios que iam incorporando a sua zona de influência.
A reforma e a contra-reforma suscitaram este tipo de conflito com o detalhe de que a reforma libertou a imaginação dos cientistas, em parte para a ciência da guerra, mas também gerando conhecimentos que levaram a grandes invenções que por sua vez acabaram por revolucionar a forma em que se faziam as coisas e a quantidade de esforço necessário para produzir bens e suprimentos.
No Brasil da minha infância três brasileiros produziam alimentos para o consumo de quatro brasileiros. Três de alguma forma ligados ao campo um vivendo de lides urbanas.
Hoje um brasileiro lida no campo para três pessoas que vivem e ganham a vida em atividades urbanas.
E mais. Este único cidadão que trabalha no campo usa equipamentos modernos que permitem que alimente não só os outros três brasileiros como também muitos chineses americanos e até (pasmem só) um que outro argentino.
O mesmo fenômeno ocorre na indústria no comércio e na prestação de serviços. Cada vez a produção de um indivíduo supre mais pessoas, gera mais riquezas. E neste processo mais pessoas consomem mais riqueza gerando novas oportunidades que geram empregos para substituir aqueles que a modernização substitui.
Este conjunto de riquezas, sejam bens físicos ou serviços de um país, é o PIB. Queiram ou não queiram, hoje o PIB está vinculado a cada indivíduo contribuir o quanto pode com a maior eficiência possível. Esta produção precisa ser de bens e serviços para os quais exista demanda. Não adianta produzir um volume enorme de caixas de câmbio para um carro que não é mais produzido. As caixas de câmbio ficarão no estoque e nunca mais gerarão novo PIB. Ao contrário mão de obra e materiais terão sido retiradas do sistema.
Outro exemplo seria a das cidades fantasmas da China. Grande obras, gerando alto número de empregos, grande volume de imóveis que foram pagos por alguém e que deverão apodrecer sem uso. O PIB chinês foi mantido nas alturas mas os apartamento não alojarão ninguém e as lojas sorveterias ou restaurantes nos complexos comerciais não venderão uma única refeição. Contudo o PIB chinês manteve-se nas alturas.
O reverso da moeda é o Brasil. Há uma quantidade de obras a serem feitas. Há uma enorme quantidade de escolas a serem melhoradas. O país arrecada recordes de impostos. Mas os impostos não são utilizados racionalmente. Ficam ao sabor de paixões de administradores incompetentes. Fulano quer uma ferrovia aqui. Beltrano quer uma transposição de rio acolá. Sicrano quer uma reserva índia sabe lá aonde.
E todos esses desejos são incluídos num orçamento. Inflados ou designados para uma execução acima do custo possível como o caso de um estaleiro sem competência comprovada em que o navio custa muito mais caro do que importá-lo.
Gera-se PIB mas os recursos não vão para os pontos neurálgicos onde gerariam mais PIB com a maior velocidade. Os portos ficam obsoletos, os custo ficam altos as estradas construídas não escoam nada ou por serem as estradas que não ligam os pontos onde seriam mais úteis e são mal construídas a custos inflados para alimentar a Corte do Brasil.
Sua Majestade Dilma fala da importância da infância em contraponto com o PIB. Concordo o PIB de 2024 depende dos recursos disponíveis para o ensino básico de hoje. Isto significa que já perdemos a corrida pois os professores já deviam estar formados há três anos.
Prédios? Prédios são bons. Dá para colocar um bom sobrepreço e pagar por alguma semana no Hawaii ou em Paris.
Mas é possível ter uma escola sem prédio desde que se tenha os professores. Sempre vai haver um galpão onde se improvise uma escola desde que o professor esteja motivado.
A questão é por aí. Se gastarmos bem a receita do país teremos empregos e produção de bens e serviços em expansão quando um brasileiro no campo alimentar dez brasileiros.
Sempre haverá empregos novos e diferentes neste mundo em que tudo muda de dez em dez anos.
Mas não se a principal atividade das autoridades for a procura de projetos que permitam maximizar a renda de seus apaniguados sem a menor noção de prioridades.
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