MEDICINA
Ralph J. Hofmann
Acabo de assistir pela terceira vez o vídeo com a fala do
Deputado Luiz Henrique Mandetta na
comissão que trata da importação indiscriminada de médicos de cubanos,
espanhóis e talvez portugueses. (Veja artigo
http://prosaepolitica.wordpress.com/2013/05/23/vinte-anos-de-medicos/ e link do vídeo).
O Deputado teve a argúcia de lembrar aos colegas a atuação
dos velhos médicos de família e foi bastante incisivo quanto às promessas de
salários brilhantes em municípios do interior, promessas que acabam por não sendo
cumpridas ou porque passada uma eleição o problema passa a ser menor (aos olhos
dos prefeitos) ou porque o sucessor do prefeito não se considera obrigado a
acatar compromissos de seu antecessor.
Como resultado o médico procura outro ambiente onde possa
garantir segurança econômica para os seus e onde haja uma estrutura de apoio técnica..
Interessante para mim foi a alusão aos exames de laboratório ou por equipamentos, que cada
médico deve usar para diagnosticar seus pacientes.
Aqui cabe lembrar que no levantamento das escolas de
medicina cubanas feito pelo Conselho Federal de Medicina em 2003 constatou-se
que os estudantes de medicina em Cuba não examinam os pacientes com raios – x
do paciente nem com análises clínicas dos mesmos, apenas com chapas e exames de
arquivo. O governo cubano não executa
exames em seus enfermos a menos que sejam membros da “Nomenklatura” ( Lista de
pessoas detentoras de poder no país).
No Brasil também há falta de infraestrutura para exames,
contudo, dentro do possível, em boa parte do país há o uso generalizado de
recursos modernos. Apenas ocorre serem insuficientes já que a prioridade nos gastos
vai para arenas desportivas.
Então o que mais falta no Brasil é o equipamento? Pessoal para
operar o equipamento?
Parece que falta equipamento e pessoal. Se entrarmos num
hospital moderno no Brasil veremos que cada tipo de equipamento demanda
técnicos que devem ter conhecimento teórico e prático para se adaptarem a cada nova geração de
aparelhos, e que as novidades se sucedem com velocidade vertiginosa.
Portanto aparentemente estamos abrindo sucessivas faculdades
de medicina, talvez algumas com qualidade “cubana” e não temos técnicos de radiologia ou de análises
clínicas suficientes.
E quem sabe não estejam realmente faltando médicos. Faltam
maneiras de atraí-los para os grotões com garantias reais de uma carreira e de uma
remuneração digna que lhes permita educar seus filhos sem passar por
necessidades.
Sem falar da frustração de não dispor em certas regiões de
laboratórios e equipamentos de raio-x ou
de não estarem em condições de funcionamento sendo operados por pessoas que
apenas tenham conhecimentos rudimentares.
Posto isto, não importa que quantidade de médicos se
introduza no país. Nada mudará a menos
que os médicos atualmente na ativa disponham de orçamentos para
criar os hospitais, muni-los de equipamento e pessoal, inclusive médicos e
técnicos segundo um plano que cubra todas as eventualidades com recursos orçamentários
permanentes que não dependam de aprovação a cada ano.
Pode-se até considerar a possibilidade de uma espécie de
serviço civil para médicos nos primeiros anos de carreira. Algo como o serviço militar em Israel.
Anualmente os israelenses prestam algumas semanas de serviço militar até
completarem 45 anos de idade.
Mas mesmo médicos cumprindo o serviço à pátria nada podem
fazer sem uma infraestrutura adequada.
Certa vez falei com um médico que havia se disposto a ir
trabalhar na África, em Lambaréné na obra do abnegado Albert Schweizer(*). Confidenciou-me que o digno e visionário Doutor, laureado Nobel essencialmente era tudo que se
dizia. Contudo naquele momento na
segunda metade do século XX já representava uma ameaça pelo seu conservadorismo
e autoritarismo. Seus métodos comparados
aos dos jovens médicos voluntários que passavam alguns meses na sua obra
estavam ultrapassados e ele se irritava com as sugestões da nova geração. Nesta altura Lambaréné tinha uma tal fama que
os recursos em termos de materiais, equipamentos e prédios seriam
prontamente supridos por filantropos
no mundo inteiro. Só que Schweizer o grande Schweizer não saberia
nem desejaria usa-los. Ficara parado no
tempo.
Os médicos cubanos lembram Schweizer quanto à
defasagem. Sugere-se que em 3 ou 4 anos aprendem o que um medico brasileiro,
norte-americano ou europeu aprende em 6 ou 8 (seis de graduação e dois de
residência especializada). Ora, 3 ou 4 anos era o tempo de um curso de
medicina na virada do século XIX para o século XX. De lá para cá a ciência cresceu de tal
maneira que a medicina do século XIX contém talvez 20% dos conhecimentos da medicina de hoje.
O Brasil adquiriu muitos bons médicos alemães e austríacos
nas décadas de 30 e de 40. Pessoas que
fugiam da Europa incendiada. Contudo os
conselhos de medicina dos diferentes estados do Brasil impunham severas
condições para que praticassem medicina aqui.
Exames, estágios junto a médicos brasileiros e repetição em escola de
medicina brasileira de algumas cadeiras.
E isto considerando que eram egressos da nata das Escolas de Medicina da
Europa.
Agora sessenta anos depois vamos agir com menos rigor?
Para não ser mero crítico aproveito para lembrar algo que
poderia servir ao interior brasileiro como uma luva. Trata-se do serviço
“Flying Doctor” (Doutor Voador) da Austrália.
Uma série de hospitais regionais
e aviões que levavam médicos para o interior para dar atenção de emergência
e fazer triagem dos pacientes que teriam de ser levados aos hospitais. Tudo
isto integrado com um serviço de radioamador
nas grandes e distantes fazendas.
Diga-se de passagem, que o serviço “Flying Doctor” era
financiado por uma loteria nacional específica cujos recursos eram destinados
apenas para a saúde. Bem melhor do que manter campeonatos de futebol não é?
(*)Albert Schweitzer
Albert
Schweitzer foi um teólogo, músico, filósofo e médico alemão, nascido na
Alsácia, então parte do Império Alemão
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe squi seu recado.
Agradecemos sua visita.
esperamos ter ajudado
Envie o seu trabalho para postarmos no blog
Obrigada pela visita