terça-feira, 28 de maio de 2013

MEDICINA



MEDICINA
Ralph J. Hofmann
Acabo de assistir pela terceira vez o vídeo com a fala do Deputado Luiz Henrique Mandetta  na comissão que trata da importação indiscriminada de médicos de cubanos, espanhóis e talvez portugueses. (Veja artigo  http://prosaepolitica.wordpress.com/2013/05/23/vinte-anos-de-medicos/  e link do vídeo).
O Deputado teve a argúcia de lembrar aos colegas a atuação dos velhos médicos de família e foi bastante incisivo quanto às promessas de salários brilhantes em municípios do interior, promessas que acabam por não sendo cumpridas ou porque passada uma eleição o problema passa a ser menor (aos olhos dos prefeitos) ou porque o sucessor do prefeito não se considera obrigado a acatar  compromissos de seu antecessor.
Como resultado o médico procura outro ambiente onde possa garantir segurança econômica para os seus e onde haja uma  estrutura de apoio técnica..
Interessante para mim foi a alusão aos exames de  laboratório ou por equipamentos, que cada médico deve usar para diagnosticar seus pacientes.
Aqui cabe lembrar que no levantamento das escolas de medicina cubanas feito pelo Conselho Federal de Medicina em 2003 constatou-se que os estudantes de medicina em Cuba não examinam os pacientes com raios – x do paciente nem com análises clínicas dos mesmos, apenas com chapas e exames de arquivo.  O governo cubano não executa exames em seus enfermos a menos que sejam membros da “Nomenklatura” ( Lista de pessoas detentoras de poder no país).
No Brasil também há falta de infraestrutura para exames, contudo, dentro do possível, em boa parte do país há o uso generalizado de recursos modernos. Apenas ocorre serem  insuficientes já que a prioridade nos gastos vai para arenas desportivas.  
Então o que mais falta no Brasil é o equipamento?  Pessoal para  operar o equipamento?
Parece que falta equipamento e pessoal. Se entrarmos num hospital moderno no Brasil veremos que cada tipo de equipamento demanda técnicos que devem ter conhecimento teórico e prático  para se adaptarem a cada nova geração de aparelhos, e que as novidades se sucedem com velocidade vertiginosa.
Portanto aparentemente estamos abrindo sucessivas faculdades de medicina, talvez algumas com qualidade “cubana” e não temos  técnicos de radiologia ou de análises clínicas suficientes.
E quem sabe não estejam realmente faltando médicos. Faltam maneiras de atraí-los para os grotões com garantias reais de uma carreira e de uma remuneração digna que lhes permita educar seus filhos sem passar por necessidades.
Sem falar da frustração de não dispor em certas regiões de laboratórios e equipamentos de raio-x  ou de não estarem em condições de funcionamento sendo operados por pessoas que apenas tenham conhecimentos rudimentares.    
Posto isto, não importa que quantidade de médicos se introduza no país.  Nada mudará a menos que os médicos atualmente na ativa disponham de orçamentos   para criar os hospitais, muni-los de equipamento e pessoal, inclusive médicos e técnicos segundo um plano que cubra todas as eventualidades com recursos orçamentários permanentes que não dependam de aprovação a cada ano.
Pode-se até considerar a possibilidade de uma espécie de serviço civil para médicos nos primeiros anos de carreira.  Algo como o serviço militar em Israel. Anualmente os israelenses prestam algumas semanas de serviço militar até completarem 45 anos de idade. 
Mas mesmo médicos cumprindo o serviço à pátria nada podem fazer sem uma infraestrutura adequada.
Certa vez falei com um médico que havia se disposto a ir trabalhar na África, em Lambaréné na obra do abnegado Albert Schweizer(*).  Confidenciou-me que o digno e visionário  Doutor, laureado  Nobel essencialmente era tudo que se dizia.  Contudo naquele momento na segunda metade do século XX já representava uma ameaça pelo seu conservadorismo e autoritarismo.  Seus métodos comparados aos dos jovens médicos voluntários que passavam alguns meses na sua obra estavam ultrapassados e ele se irritava com as sugestões da nova geração.  Nesta altura Lambaréné tinha uma tal fama que os recursos em termos de materiais, equipamentos e prédios seriam prontamente  supridos por filantropos no  mundo inteiro.  Só que Schweizer o grande Schweizer não saberia nem desejaria usa-los.  Ficara parado no tempo.  
Os médicos cubanos lembram Schweizer quanto à defasagem.  Sugere-se que em 3 ou 4  anos aprendem o que um medico brasileiro, norte-americano ou europeu aprende em 6 ou 8 (seis de graduação e dois de residência  especializada).  Ora, 3 ou 4 anos era o tempo de um curso de medicina na virada do século XIX para o século XX.  De lá para cá a ciência cresceu de tal maneira que a medicina do século XIX contém talvez 20%  dos conhecimentos da medicina de hoje.
O Brasil adquiriu muitos bons médicos alemães e austríacos nas décadas de 30 e de 40.  Pessoas que fugiam da Europa incendiada.  Contudo os conselhos de medicina dos diferentes estados do Brasil impunham severas condições para que praticassem medicina aqui.  Exames, estágios junto a médicos brasileiros e repetição em escola de medicina brasileira de algumas cadeiras.  E isto considerando que eram egressos da nata das Escolas de Medicina da Europa.   
Agora sessenta anos depois vamos agir com menos rigor?
Para não ser mero crítico aproveito para lembrar algo que poderia servir ao interior brasileiro como uma luva. Trata-se do serviço “Flying Doctor” (Doutor Voador) da Austrália.  Uma série de hospitais regionais  e aviões que levavam médicos para o interior para dar atenção de emergência e fazer triagem dos pacientes que teriam de ser levados aos hospitais. Tudo isto  integrado com um serviço de radioamador nas grandes e distantes fazendas.
Diga-se de passagem, que o serviço “Flying Doctor” era financiado por uma loteria nacional específica cujos recursos eram destinados apenas para a saúde. Bem melhor do que manter campeonatos de futebol não é?
(*)Albert Schweitzer
Albert Schweitzer foi um teólogo, músico, filósofo e médico alemão, nascido na Alsácia, então parte do Império Alemão

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