Crescimento da cafeicultura brasileira está embasado no
emprego de tecnologias
Para Silas Brasileiro, além dos instrumentos de política agrícola de ordenamento da oferta e garantia de renda, devem ser implementadas políticas de estímulo ao consumo
Para Silas Brasileiro, além dos instrumentos de política agrícola de ordenamento da oferta e garantia de renda, devem ser implementadas políticas de estímulo ao consumo
O Conselho Nacional do Café (CNC) é uma entidade privada que reúne produtores, cooperativas, associações de cafeicultores e federações de agricultura de Estados produtores. Com essa abrangência, a entidade representa um universo de aproximadamente 270 mil produtores, em sua maioria de pequeno porte. Fundado em 1981, por iniciativa de vários líderes da cafeicultura nacional, o CNC tem o intuito de defender e promover os direitos e interesses dos produtores de café do Brasil. Sua atuação está sempre ligada aos princípios do desenvolvimento sustentável, em suas dimensões econômica, social e ambiental.
Membro
do Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC), o CNC também faz parte da
delegação oficial brasileira na Organização Internacional do Café (OIC),
constituindo-se em importante interlocutor dos cafeicultores brasileiros em
nível internacional. Por meio de acordos institucionais, trabalha integrado com
a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e com a Organização
das Cooperativas Brasileiras (OCB),
representando-as em alguns fóruns de interesse do setor. Além disso, representa
o setor nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário – em níveis federal,
estadual e municipal –, e nos demais segmentos da cadeia produtiva do
agronegócio café, propondo e participando ativamente da gestão da política de
interesse do setor.
A
Embrapa Café, que coordena as
pesquisas realizadas pelo Consórcio Pesquisa
Café, em busca de traçar um panorama atual da cafeicultura brasileira tem
sistematicamente entrevistado dirigentes de instituições representativas dos
diversos segmentos do agronegócio café no Brasil. Nesta edição, conversamos com
o Deputado Federal Silas Brasileiro que também é presidente executivo do CNC.
Saiba o que ele pensa sobre a atual situação do agronegócio café brasileiro e
que medidas têm sido propostas e reivindicadas pelo CNC ao setor produtivo para
suplantar as dificuldades enfrentadas e dar sustentabilidade à cafeicultura.
Embrapa
Café - O Conselho Nacional do Café (CNC), como entidade privada, representa
produtores, cooperativas, associações de cafeicultores e federações de
agricultura dos estados produtores. Qual o perfil dos representados pela
entidade e qual sua missão principal?
Silas
Brasileiro - Com essa abrangência, a entidade representa um universo de
aproximadamente 270 mil produtores, em sua maioria de pequeno porte. O CNC tem
como foco principal o desenvolvimento sustentável do agronegócio café,
considerando: renda maior e estável aos produtores; redução da volatilidade no
mercado; aumento da competitividade do setor; agregação de valor ao produto e
maior participação dos produtores nas margens de comercialização; atendimento às
exigências do mercado em consonância com os princípios de sustentabilidade
econômica, social e ambiental; e fortalecimento político-institucional e
consolidação da imagem do setor, do CNC e dos associados.
EC
- Do lado do Governo, o Conselho Deliberativo da Política do Café – CDPC é um
colegiado do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa com sete
representantes do governo e mesmo número da iniciativa privada. O CNC e a
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA integram o CDPC com dois
representantes cada; a Associação Brasileira da Indústria do Café – Abic, a
Associação Brasileira da Indústria do Café Solúvel – Abics e o Conselho dos
Exportadores de Café do Brasil - Cecafé com um representante cada. Que avaliação
o CNC faz da missão e do desempenho do CDPC?
SB
- O setor produtivo do café pode se considerar um privilegiado por possuir tão
relevante fórum como o CDPC, que engloba todos os elos da cadeia privada e
também do Governo Federal. Entretanto, hoje notamos que, infelizmente, o
“Deliberativo” da nomenclatura deixou de ter o significado real da palavra,
pois, por mais que o colegiado aprove medidas pró-ativas e favoráveis ao
desenvolvimento sustentável da cafeicultura brasileira como um todo, essas
encontram resistência e acabam não sendo concretizadas. Esse cenário,
lamentavelmente, faz com que produtores percam renda e, consequentemente,
competitividade, exatamente por falta da implementação e agilidade nas ações
aprovadas no CDPC. Por se tratar de um fórum em que há representação do setor
privado e do Governo, onde as decisões são tomadas pela maioria dos titulares,
necessária se faz uma ação conjunta, para que o Conselho cumpra o seu
objetivo.
EC
- O foco principal do CNC tem sido buscar promover o desenvolvimento sustentável
do setor produtivo do café. Levando-se em conta os baixos níveis de preços
recebidos pelos produtores nas últimas safras, preço mínimo que não cobre os
custos de produção, volatilidade dos mercados no País e exterior, aumento da
competitividade dos países concorrentes, que medidas o CNC tem defendido no
âmbito governamental e privado para reverter essa situação?
SB
- Frente ao aviltamento dos preços da saca de café, o CNC tem proposto e
defendido junto ao Governo Federal a prática de implantação de instrumentos de
política agrícola para o ordenamento de oferta e para a garantia de renda aos
cafeicultores. A primeira conquista foi a aprovação da prorrogação da estocagem
pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), em 28 de março de 2013. Essa decisão
abrangeu 2 mil contratos, correspondentes a 2 milhões de sacas que deixaram de
ingressar no mercado neste semestre, evitando, portanto, uma sobreoferta às
margens da entrada da nova safra. Restam, ainda, a definição de um novo preço
mínimo, a aprovação dos votos para a definição dos valores para as linhas de
financiamento de Colheita, Custeio, Estocagem e FAC e as subsequentes aprovações
dos programas de Leilões de Opções e do Prêmio Equalizador Pago ao Produtor
(Pepro). No âmbito privado, temos defendido a realização de esforços para a
redução dos custos de produção, por meio da incorporação tecnológica, de forma a
preservar nossa competitividade internacional.
EC
- Em função dos dados oficiais levantados pela Companhia Nacional de
Abastecimento – Conab para a safra de 2013, o CNC poderia traçar um panorama da
produção de café arábica e robusta, no País, destacando as peculiaridades dos
seis maiores estados produtores?
SB
- Minas Gerais é o principal estado produtor de café do Brasil, respondendo por
52% da safra nacional. A cafeicultura mineira é especializada na produção da
variedade arábica, que representa 99% do volume colhido nos 680 municípios onde
é cultivada. Em segundo lugar vem o Espírito Santo, especializado em conilon (o
robusta brasileiro), respondendo por 77% da produção dessa variedade no Brasil.
São Paulo, Bahia, Paraná e Rondônia ocupam, respectivamente, a terceira, quarta,
quinta e sexta posições no ranking de estados produtores. Cada um possui
suas vantagens e desafios regionais a serem enfrentados. Porém, independente das
peculiaridades locais, o fato mais importante que os dados da Conab têm nos
mostrado é que o crescimento da cafeicultura nacional está embasado no emprego
de tecnologias, as quais tem permitido ganhos de produtividade muito mais
significativos do que a expansão de área. Ao longo da última década, a melhoria
dos tratos culturais e a renovação das lavouras em áreas já dedicadas à
atividade cafeeira — com espaçamentos adensados e novas variedades mais
produtivas e resistentes a pragas e doenças — foram suficientes para aumentar em
aproximadamente 70% a produção nacional de café, ao mesmo tempo em que se
reduziu a área em produção.
EC
- Com esses números da Conab e levando-se em conta os estoques eventualmente
existentes, a exportação e o consumo interno, face ao crescente aumento da
produção e do consumo em nível mundial, que medidas o nosso País poderia adotar
internamente para remunerar adequadamente o produtor e continuar mantendo a
nossa hegemonia no mercado?
SB
- Além dos instrumentos de política agrícola para o ordenamento da oferta e a
garantia de renda, devem ser implementadas políticas de estímulo ao consumo
doméstico e internacional. Acreditamos que o aumento do consumo está atrelado ao
crescimento da qualidade do produto oferecido ao consumidor. Por isso, frente à
revogação da IN 16/2010, defendemos a retomada dos trabalhos para a elaboração
de uma nova regulamentação para fiscalizar e coibir possíveis impurezas no café
torrado e moído, gerando mais segurança ao consumidor e auxiliando no aumento do
consumo da bebida. Na área da promoção comercial, apoiamos a aplicação dos
recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) na execução de um
plano de divulgação dos cafés do Brasil, até 2016, visando aproveitar a
oportunidade dos eventos esportivos internacionais que serão sediados no País. O
setor privado tem realizado um importante trabalho de promoção dos cafés
brasileiros. Merece destaque a atuação da Associação Brasileira de Cafés
Especiais (BSCA, sigla em inglês), entidade associada ao CNC, que tem levado os
cafés especiais do País a diversos eventos internacionais ligados ao agronegócio
café e ao turismo, além de viabilizar uma maior remuneração aos produtores que
investem na qualidade. A Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic)
também possui um convênio com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e
Investimentos (Apex-Brasil) para promover o café brasileiro no exterior e
fomentar as exportações do café industrializado. Além de campanhas de marketing,
a política comercial é muito importante para ampliar os mercados para nosso
café, mas infelizmente o País não tem avançado na realização de acordos
bilateriais e regionais. Enquanto isso, a Colômbia recentemente fechou um
tratado de livre comércio com a Coréia do Sul, garantindo a eliminação de
tarifas para a entrada em um dos mercados de café mais dinâmicos do planeta.
EC
- A bienalidade é caracterizada pela alternância de safras com alta e baixa
produção, sendo mais pronunciada no café arábica, mas também tem ocorrido no
café robusta. Contudo, com o avanço das pesquisas e das tecnologias empregadas
no campo, a bienalidade tem se reduzido a cada safra. Como o CNC avalia esse
fato?
SB
- O primeiro ponto a se destacar é o trabalho que as instituições de pesquisa,
englobadas no Consórcio Pesquisa Café sob coordenação da Embrapa Café, vêm
realizando, o que tornou possível essa maior proximidade entre as safras. O CNC
entende que a redução da bienalidade é positiva, pois traz mais estabilidade ao
mercado, mitigando a volatilidade dos preços do café. Porém, diante do
aviltamento dos preços pagos pelo café no mercado, alertamos para o fato de
voltarmos a registrar bienalidades acentuadas em nossas colheitas, haja vista
que a falta de renda trará como tendência inevitável a redução dos tratos
culturais nas lavouras, principal fator que fez com que os ciclos possuíssem
menor diferença nos volumes colhidos.
EC
- Dados de consumo da Organização Internacional do Café – OIC indicam aumento da
procura por café robusta em nível global. Confirmada essa performance, como o
CNC vislumbra os mercados atual e futuro?
SB
- O aquecimento da demanda pelo robusta é fruto do crescimento do consumo em
países emergentes, que não são consumidores tradicionais da bebida, como Rússia
e China. Entendemos que o robusta é um desbravador nesses mercados, pois os
consumidores começam o contato com a bebida instantânea. Porém, com o
planejamento e o investimento adequados em marketing, no médio prazo,
esses consumidores passarão a se interessar por blends mais finos, com
maior participação de arábica, abrindo espaço para os grãos brasileiros dessa
variedade.
EC
- Nesse contexto, quais as perspectivas de crescimento da demanda interna no
Brasil de robusta e para quais nichos de mercado?
SB
- Por apresentar maior concentração de sólidos solúveis, o robusta é
matéria-prima para a indústria de café solúvel, uma bebida demandada por
consumidores que dão maior valor aos atributos de praticidade e rapidez de
preparo dos alimentos. Porém, tem crescido sua participação na composição dos
blends de torrado e moído, devido a seu menor custo em relação ao
arábica, como uma estratégia de ampliação da vantagem competitiva dessa
indústria. O desenvolvimento da tecnologia de vaporização, que reduz a aspereza
do robusta, permitiu a adoção dessa estratégia pela indústria torrefadora, com a
vantagem de aumento de sua margem econômica e gerando boas perspectivas de
demanda para o robusta.
EC
- O Brasil é o maior produtor, maior exportador e segundo maior consumidor de
café no mundo, logo atrás dos Estados Unidos. Quando o Brasil deverá chegar à
primeira colocação no ranking do consumo e o que falta, na ótica da
produção, para alcançarmos essa meta?
SB
- O Brasil tem apresentado notável crescimento do consumo doméstico de café,
saltando de 6 milhões de sacas, na década de 80, para cerca de 21 milhões de
sacas, atualmente. Dentre os principais fatores que permitiram esse salto do
consumo, destacamos o investimento em qualidade, que cativou o consumidor
nacional. Nas fazendas e cooperativas, a qualidade e a identidade do grão é
garantida pelos padrões oficiais estabelecidos na Instrução Normativa
No 8, de 11 de junho de 2003, do Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (Mapa). Os programas da indústria brasileira de certificação da
qualidade do café, aliados ao aumento da renda das famílias brasileiras, foram
particularmente importantes para que o crescimento do consumo atingisse a taxa
de 4% a.a. Mantido esse percentual, nos próximos anos ultrapassaremos os Estados
Unidos, cujo consumo é de 23 milhões de sacas, consolidando-nos como os maiores
consumidores mundiais de café.
EC
- Saberia dizer quais estratégicas de promoção poderiam ser desenvolvidas pelo
agronegócio café no Brasil para incrementar o consumo tanto nos países onde o
mercado está consolidado como nos que ainda não têm esse hábito de consumo?
SB
- As estratégias de promoção devem incluir os resultados positivos obtidos nas
pesquisas iniciadas no Brasil e, atualmente, desenvolvidas em diferentes partes
do planeta, dos benefícios do café para a saúde. E, acima de tudo, a
sustentabilidade da cafeicultura nacional, que é desenvolvida sob a legislação
ambiental e trabalhista mais rígida do mundo, com qualidade e diversidade de
bebidas e origens.
EC
- Especificamente em relação ao custo de produção do café, poderia enumerar e
quantificar em termos percentuais quais insumos impactam mais os custos e que
medidas poderiam ser implementadas para mitigar seus efeitos?
SB
- Mão de obra e fertilizantes são importantes fatores de produção, com peso
aproximado de, respectivamente, 40% e 15% nos custos do café brasileiro, sendo
premente o emprego de inovação tecnológica e revisão de tributos e encargos
sociais para que consigamos manter nossa competitividade. Nesse sentido, o CNC
aprovou a criação de um consórcio, composto inicialmente por seis cooperativas,
as quais investirão R$ 2,4 milhões para o desenvolvimento de novas máquinas e
equipamentos para a colheita com o objetivo de reduzir os gastos na produção,
elevados principalmente pelos encargos com mão de obra. No tocante aos
fertilizantes, a produção nacional desses insumos cresce a taxas muito
inferiores a da demanda do agronegócio, tornando-nos dependentes das importações
para o abastecimento do mercado. O café é a quarta cultura que mais consome
fertilizantes no Brasil, depois da soja, milho e cana. Como somos importadores
líquidos, os preços pagos pelos produtores rurais são formados pela paridade de
importação, onde está embutida uma taxa de 25 % referente ao Adicional ao Frete
para a Renovação da Marinha Mercante (AFRMM). A isenção dessa taxa na importação
desses insumos e a alteração na Legislação Trabalhista seriam muito importantes
para redução nos custos dos produtores rurais. Também é importante a definição
de um marco regulatório que viabilize investimentos em pesquisa e extração de
minérios estratégicos para a produção de fertilizantes, de forma a ampliar a
oferta nacional.
EC
- No geral, quais os desafios o CNC apontaria para serem enfrentados pelo setor
produtivo do café no Brasil e, nesse contexto, que políticas públicas poderiam
ser adotadas para o setor?
SB
- Para que a atividade não perca a sustentabilidade econômica, frente ao
aviltamento dos preços internacionais, e consequentemente fique impossibilitada
de dar a devida atenção à preservação ambiental e à geração de empregos no
campo, é importante o estudo e a elaboração de planos de ação de longo prazo,
relacionados a: (i) política comercial, visando à negociação de tratados
internacionais com tarifas diferenciadas para o café brasileiro; (ii) marketing
e promoção comercial dos cafés diferenciados das origens produtoras; (iii)
estratégias de diversificação das propriedades produtoras de café, visando ao
aumento das margens econômicas; (iv) desenvolvimento e transferência de
tecnologias objetivando o aumento da produtividade e à redução de custos de
produção dos cafezais.
EC
- Das tecnologias desenvolvidas pelas instituições participantes do Consórcio
Pesquisa Café que foram incorporadas pela lavoura, poderia apontar quais delas
considera terem sido especialmente positivas para o setor produtivo do café?
SB
- O Consórcio Pesquisa Café tem desempenhando papel fundamental no crescimento
sustentável da cafeicultura brasileira, resultado refletido nos significativos
incrementos de produtividade obtidos na última década. Ainda no âmbito da
sustentabilidade, destacamos o desenvolvimento de cultivares imunes a pragas e
doenças, mais resistentes a adversidades climáticas e com maior potencial
produtivo, além do desenvolvimento de tecnologia que reduz o volume de água
empregado no beneficiamento do café. No quesito qualidade, merecem destaque a
adubação fosfatada, de especial importância para a cafeicultura da região do
Cerrado, e as tecnologias voltadas para a pós-colheita (preparo, secagem e
armazenamento de grãos) que permitem a obtenção de cafés de qualidade superior
com eficiência econômica. Dada a importância da Indicação Geográfica para a
diferenciação da produção brasileira de café, as tecnologias de sensoriamento
remoto e os sistemas de informação geográfica também têm sido fundamentais na
delimitação e na identificação dos fatores ambientais que influenciam a
qualidade da bebida, auxiliando as regiões a obterem suas indicações de
procedência ou denominações de origem.
EC
- Na perspectiva do CNC, quais focos/temas da pesquisa ainda precisam ser
desenvolvidos pelo Consórcio Pesquisa Café para oferecer soluções tecnológicas
que amenizem os efeitos das crises cíclicas da cafeicultura?
SB
- O setor reconhece a importância fundamental do Consórcio Pesquisa Café como um
fator decisivo para o desenvolvimento da cultura em nosso País, no entanto,
precisamos avançar em soluções tecnológicas para reduzir os custos, mantendo a
sustentabilidade e a qualidade da produção. Somente investindo no
desenvolvimento e na transferência dessas tecnologias, adaptadas às
peculiaridades locais das diversas origens cafeeiras do Brasil, continuaremos na
liderança da produção mundial.
EC
- Gostaria de acrescentar mais alguma informação e/ou esclarecimento relevante
para o setor produtivo do café que não foi explorada nesta entrevista?
SB
- PESQUISAS — Com a publicação da Lei Orçamentária Anual (LOA), temos que
recordar que, especificamente em 2013, não houve destinação dos recursos do
Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) para a área de pesquisas no café,
fato que tira a ascendência do CDPC e do Ministério da Agricultura nas
diretrizes dos estudos a serem realizados pela Embrapa Café, por exemplo.
Sabemos que a estatal usará de seu orçamento próprio R$ 10 milhões para a
realização das pesquisas, mas também temos que trabalhar para que a verba do
Funcafé não deixe de ser encaminhada a essa fundamental área, responsável, nos
últimos anos, pelo desenvolvimento de variedades de café mais resistentes a
adversidades climáticas, a pragas e doenças e, em especial, pelo aumento da
produção cafeeira do Brasil, por meio da elevação da produtividade, sem a
expansão da área, o que nos permitiu manter o atendimento de nossas demandas
interna (consumo) e externa (exportação). POLÍTICA — Não obstante, temos que
fortalecer a representatividade política do café no Congresso Nacional através
da estruturação de projetos e trabalhos a serem desenvolvidos pela Frente
Parlamentar Mista em Defesa da Cafeicultura. Não podemos nos omitir, e digo isso
agora na condição de deputado federal, para um setor responsável pela maior
geração de emprego no campo e que responde por aproximadamente 8,4 milhões de
postos de trabalho em toda a cadeia (produção, exportação e indústrias). Se,
atualmente, o CDPC não está exercendo mais sua força deliberativa de fato, vamos
nos empenhar para que ele cumpra a sua finalidade. Temos, ainda, que buscar
caminhos que possibilitem a implantação de políticas públicas e estratégicas
para uma cafeicultura brasileira sustentável em seu tripé social, ambiental e
econômico, e creio que a melhor via para isso é a unificação dos trabalhos dos
parlamentares da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, inclusive propondo
destinação de recursos do Funcafé na LOA 2014.
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